O hábito de ouvir,
É assim que o
mundo inteiro entra nas orelhas
Vivi através de
escutar os pássaros,
o som do mundo, as
palavras levianas,
o que eu queria e
o que eu abominava
até minha própria
cabeça:
nela me tornei
afiado em escutar.
Mergulhei na
história das coisas
Escutando o cheiro
do paladar,
Sentado aqui no
banco da vida,
Ouvindo o som dos
passos das formigas
conheci a
liberdade na brincadeira das crianças
escutei pelos
cantos a fábula da moça que se apaixonou pelo cantor
dizem que ela
sofreu, mas é porque ele nem existiu
ora, vejam!
Até as mentiras
crivaram-me o martelo, o tímpano, a bigorna
Iludiram meu
córtex com trapaças que eu nem imaginava
Escutei e calei,
eliminei até na própria urina
Agora eu,
escaldado na escuta da vida,
Este que vos fala,
sim, eu é que sou julgado.
- Lá vai o doido!
É só uma questão de tempo
terça-feira, 14 de março de 2023
Audição
Lucas Borges
terça-feira, 8 de novembro de 2022
O banco da vida
Sentado naquele
canto da cidade,
Observei um homem
Olhar direto,
focado no fim do caminho
Em todas as
direções
Enxergando apenas
o fim do caminho
Eram pessoas de
plástico,
Embalagens sem
conteúdo algum
Surgiu enfim a
questão cabalística:
- É tudo de se
jogar fora?
Lucas Borges
24/09/2022
A ponte falsa
Como de costume,
sentei na praça da
vida,
peguei a pipoca,
fui assistir a noite cair.
A ponte, linda como nunca, estranhei!
Iluminada, linda,
ornada de paixão,
havia nela apenas
um passeio de brisa,
uma única e
romântica direção:
conduzia ao coração
de uma peruana
a paixão e os
desejos de um cantor de ópera.
E aconteceu naquela noite
célebre,
ele,
chinfrim, entoou Wagner aos ares.
Tentou
impressionar aqueles olhos negros, mas,
ela, toda
desembaraçada, envolveu ele na ilusão
ele, para curar a ressaca de paixão por ela,
explodiu a ponte e
correu na direção contrária.
Sorri de lado,
balancei cabeça, pensei:
- Isso não se faz
cantor!
Acontece de tudo
nessa praça.
Lucas Borges
24/09/2022
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