terça-feira, 14 de março de 2023

Audição

O hábito de ouvir,
É assim que o mundo inteiro entra nas orelhas
Vivi através de escutar os pássaros,
o som do mundo, as palavras levianas,
o que eu queria e o que eu abominava
até minha própria cabeça:
nela me tornei afiado em escutar.
Mergulhei na história das coisas
Escutando o cheiro do paladar,
Sentado aqui no banco da vida,
Ouvindo o som dos passos das formigas
conheci a liberdade na brincadeira das crianças
escutei pelos cantos a fábula da moça que se apaixonou pelo cantor
dizem que ela sofreu, mas é porque ele nem existiu
ora, vejam!
Até as mentiras crivaram-me o martelo, o tímpano, a bigorna
Iludiram meu córtex com trapaças que eu nem imaginava
Escutei e calei, eliminei até na própria urina
Agora eu, escaldado na escuta da vida,
Este que vos fala, sim, eu é que sou julgado.
- Lá vai o doido!

Lucas Borges
14/03/2023

terça-feira, 8 de novembro de 2022

O banco da vida

Sentado naquele canto da cidade,
Observei um homem
Olhar direto, focado no fim do caminho
Em todas as direções
Enxergando apenas o fim do caminho
Eram pessoas de plástico,
Embalagens sem conteúdo algum
Surgiu enfim a questão cabalística:
- É tudo de se jogar fora?
 
Lucas Borges
24/09/2022

A ponte falsa

Como de costume,
sentei na praça da vida,
peguei a pipoca, fui assistir a noite cair.
A ponte, linda como nunca, estranhei!
Iluminada, linda, ornada de paixão,
havia nela apenas um passeio de brisa,
uma única e romântica direção:
conduzia ao coração de uma peruana
a paixão e os desejos de um cantor de ópera.
E aconteceu naquela noite célebre,
ele, chinfrim, entoou Wagner aos ares.
Tentou impressionar aqueles olhos negros, mas,
ela, toda desembaraçada, envolveu ele na ilusão
ele, para curar a ressaca de paixão por ela,
explodiu a ponte e correu na direção contrária.
Sorri de lado, balancei cabeça, pensei:
- Isso não se faz cantor!
Acontece de tudo nessa praça.
 
Lucas Borges
24/09/2022